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Sinopse:
Seja homem ou nação / Até em processo ameno / A força dita a razão / Sempre contra o mais pequeno // Porque não nos entendemos // Unidos numa só voz? / Por isso é que merecemos / O mal que cai sobre nós [José Salgueiro]
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Nasceu há 64 anos [à data da 1.ª edição, em 1984] na freguesia de Nossa Senhora da Vila, Alentejo. Aos oito anos de idade, divide os seus dias entre a escola e o trabalho na apanha da azeitona; era necessário sobreviver à pobreza, a outras privações e afrontas (coisa que o povo português vai, infelizmente, tratando por tu) na companhia de seus pais e de mais oito irmãos. Até aos 18 anos aprende e faz todos os trabalhos do campo, «excepto espalhar e tirar cortiça» como ele uma vez escreveu. Passou a pronto no ofício de sapateiro trabalhando dia e noite, domingos e feriados, para sustentar os irmãos.
A fragilidade herdada de uma fraca alimentação faz com que «não tenha dado o corpo para a tropa», mas também o condena a uma «doença de fraqueza» que o atormenta quase durante um ano. Comeu bolotas cozidas no silêncio amargo dos insultados, andou caminhos descalços, secou à lareira a encharcada roupa de sempre que vestia necessariamente ao outro dia. É, actualmente, ervanário; e a poesia morria com ele se não surgisse o 25 de Abril, como também uma vez afirmou.
São apenas alguns tópicos que ajudam a definir a vida de um homem e de um poeta que dá pelo nome de José Salgueiro. Um homem de olhar arguto e nervoso, de rosto marcado pelos tempos da fúria, escondendo, na figura pequena, a timidez de quem espera a qualquer momento a agressão não avisada. São apenas alguns tópicos mas que nos indicam o mundo, o estilo e forma da poesia que este livro nos propõe.
(...)
A poesia de José Salgueiro não revela apenas a sua experiência de vida, constitui também um curioso registo da nossa história recente. Assume-se como reflexo do processo político que se segue ao 25 de Abril de 1974, extremamente rico em termos de participação popular na vida pública do país; vai desde as referências às comissões de trabalhadores e de moradores, à reportagem poética e quase descritiva de comícios e manifestações, ao mesmo tempo que desenha habilmente o olhar crítico de um povo sobre o que se convencionou chamar a «classe política ou, (porque não?) o discurso do poder. Olhar crítico – esse matreiro olhar crítico – que constata ironicamente a existência de duas linguagens distintas, o choque de interesses, e prossegue na caricatura impiedosa dos aderentes de última hora à ideia da revolução ou na constatação dolorosa, sempre dolorosa, mas apontada em riste, de que muitos dos sitiados a abandonaram. (...) [da Apresentação de FAUSTO]
Índice:
Nota do Editor à segunda edição Nota do Editor à primeira edição Apresentação Breve Desilusão Na Prisão Ao Menino Jesus A um Camarada Assassinado A José Adelino dos Santos Depois do 25 de Novembro Este Salgueiro de Montemor Primeiro de Maio Comissão de Moradores Colheita De Mãos Dadas Ao Povo do Norte de Portugal Aos que não sabem perder no jogo de Damas ou outro qualquer A voz do Cão abandonado e Ingratidão do Dono Diálogo entre a Mentira e a Verdade Ao 25 de Abril Coisas que eu Penso Tanto Povo esfomeado O Trabalhador Agrícola nos Países Burgueses À extinta Unidade Colectiva de Produção – “Força Popular” de Montemor-o-Novo Desilusão da Vida Universal Contrastes Na Escola foste comigo As Cinzas do Terror As Duas Faces da Divisão Lamentos do Trabalhador Rural Cuidado com o que se diz Analisando o Presente Vaidade e o Bem ou Mal Vestir A Alguns que viviam na Miséria Aos Jornais O que for no atrelado Drama de um amor gorado A discussão A esmola A quem sirva a carapuça Coisas que não reza a História (com quadras soltas) Ao Povo oprimido do Mundo Capitalista Algumas das Coisas que eu vejo A um fanático religioso Alguns casos da vida do dia-a-dia A João Caravela e António Casquinha A vida das Formigas Não saber Perder Alguns Partidos e Partidinhos Aos Velhinhos do Abrigo dos Velhos Trabalhadores de Montemor-o-Novo A alguns filhos do País onde fomos criados A Manuel Patracol Os roubos que nos fazem A um progressista da minha terra A educação ou a possível regeneração de alguns Aos opressores do povo Ao Rancho Infantil de Montemor-o-Novo Se não quiseres cair O Riso O Povo Desunido Aos Dirigentes ou donos A Fala em vários sentidos Aos bons e maus servidores da Igreja Aos adultos do curso de alfabetização Enquanto por cá andar A Cultura O olhar em várias direcções A ferocidade do Homem que ultrapassa a do Leão Pequenos pormenores da minha passagem pela vida Verdade e Razão O Amor e o Amar em várias formas A um dos principais governantes deste País depois do 25 de Abril Para meditar As pessoas rudes ou de má formação As guerras Aos infelizes e marginalizados Lamentações em quadras soltas Estas Palavras Ode aos descuidados do 25 de Abril de 1974 Apontamentos sobre a minha vida Quadras Soltas I Quadras Soltas II
O AUTOR:
JOSÉ ANTÓNIO SALGUEIRO nasceu em 1919 no Monte da Boavista, Montemor-o-Novo. Trabalhou desde criança para contribuir para o sustento dos irmãos e dos seus pais, os quais, enquanto trabalhadores rurais, nem sempre tinham emprego certo. A sua vida foi preenchida por muitos trabalhos e ofícios. Quase nada do que ao mundo rural diz respeito lhe foi estranho, mas foi a profissão de sapateiro que mais tempo o ocupou. Com a sua mãe aprendeu o segredo das plantas, desenvolvendo essa aprendizagem através de muita curiosidade e estudo aplicado na colheita, secagem e receitas de mezinhas a todos aqueles que o procuram. A história, a poesia, o futebol, a música e o jogo de damas foram alguns dos seus múltiplos interesses, aos quais continua atento, e em alguns casos, participativo.
Detalhes:
Ano: 2015
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 184
Formato: 23x16
ISBN: 9789896894924
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