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Sinopse:
“É preciso estilhaçar o todo”, proclamou Nietzsche contra Hegel. Está feito, é essa a nossa situação, condenados a saberes feitos de estilhaços especializados. Um filósofo que busque saber o que são os humanos só encontra na sua tradição sujeitos e consciências herdadas da alma, contra o corpo e o mundo, sem família ou sexo ou trabalho ou língua. Reclamando-se duma corrente originada na fenomenologia (Husserl, Heidegger e Derrida) e da descoberta pelo químico Ilya Prigogine (Nobel 1977) da irreversibilidade do tempo na produção de entropia de estruturas dissipativas (estabilidades instáveis), esse filósofo teve que se voltar para outras descobertas científicas do último século que desbravaram as dimensões humanas em falta. Aí encontrou dois tipos de obstáculos: como articular biologia, neurologia, ciências sociais, linguística e psicologias, além da física e da química prévias, se os seus paradigmas são irredutíveis uns aos outros; não tendo competência para aceder aos respectivos laboratórios e dando-se conta de que as ciências têm dificuldades em entender as razões pelas quais necessitam desses laboratórios, donde a dificuldade de organizar teoricamente o que se passa fora das fronteiras deles. Apercebeu-se de que o pensamento dos cientistas sofre, sem que eles saibam, de um erro vindo da oposição filosófica tradicional entre pensamento e realidade, entre o sujeito (interior) predominando sobre o objecto (exterior), erro herdado do dualismo platónico-cristão alma / corpo, mundo. Trata-se de propor a correcção fenomenológica desse erro como ajuda intelectual dum filósofo que compreendeu que essas descobertas científicas do século XX permitem desenhar os mapas de possibilidades dos fenómenos indeterminados do universo terrestre em suas cenas de circulação fora dos laboratórios, na chamada ‘realidade’.
Índice:
I – A ALIANÇA DAS CIÊNCIAS COM A FILOSOFIA A) Filosofia com Ciências ou Fenomenologia geral B) Porque é que as ciências precisam de laboratório? Determinação e indeterminação Os três estratos dos textos científicos Paradigmas, epistemas, fenomenologia Cientistas, filósofos e a ‘realidade’ Regras e aleatório
II – UM PRECONCEITO FILOSÓFICO NO PARADIGMA DAS BIOLOGIAS A) Selecção natural e lei da selva (diálogo com Teresa Avelar) A selecção natural é um mecanismo? A lei da selva comanda as anatomias animais Passar do ‘ambiente’ à cena ecológica Contrariar o determinismo genético na compreensão de evolução Conclusão fenomenológica: uma biologia de seres no mundo B) Cérebro, mente e mundo (diálogo com António Damásio) Na Neurologia como na Biologia Nós, animais, somos seres no mundo Onde há neurónios, há mente O cérebro é um órgão biológico e social A questão do filósofo: o que é o humano? Conclusão fenomenológica: compreensão e linguagem relevam de evoluções diferentes C) A evolução entre biologia e bioquímica, entre Darwin e Marcello Barbieri (uma questão de lógica em fenomenologia) A perspectiva biológica da evolução segundo Darwin A perspectiva bioquímica da evolução segundo M. Barbieri A questão de lógica entre as duas perspectivas Uma perspectiva fenomenológica da evolução A cruel origem da espécie humana
III – A ARTICULAÇÃO DOS SABERES A) A articulação dos saberes com Prigogine: entropia e homeostasia A nova aliança entre filosofia e ciências A produção de entropia Entropia dos animais Entropia das sociedades humanas e seus usos Entropia da fala Entropia da escrita e cosmopolitismo: a literatura espiritual e de saber Entropia dos laboratórios da Física do século XVII Entropia das máquinas modernas e da electricidade Entropia da revolução, do antigamente à modernidade Entropia da escola Entropia da moeda e do mercado Resumindo Entropia dos astros e dos átomos Energia, força e entropia E a questão da unificação da Física? A entropia e a flecha do tempo contra o determinismo P. S. Redução e irredutibilidade 2.º P. S. A questão existencial do(s) sentido(s) da vida que se vive B) Da sexualidade como excesso e como alteridade A filosofia ocidental é assexuada A alimentacionalidade, uma economia do mesmo A sexualidade como desperdício O interdito do incesto domina o excesso e prolonga a alteridade Oscilação e sublimação Sexualidade e lei segundo a psicanálise O erotismo e a morte segundo Bataille C) Conclusão fenomenológica: exemplos de Filosofia com Ciências Primeira fragilidade das sociedades de casas: a morte Outra fragilidade das sociedades de casas: o jogo das ‘vontades’ (envies) A linguagem duplamente articulada dada pela tribo Biologia e antropologia: articulação
IV – TRÊS CIÊNCIAS SOCIAIS A) A psicanálise, uma ciência diferente das outras A neurofisiologia, ciência do cérebro que não do discurso Uma semiótica experimental do discurso neurótico na sua relação à sexualidade As resistências como índice de ‘real’ Pertinência e dissimulação do falar Somos por vezes loucos durante a noite Oscilação e identidade Desligar o que permanece ligado algures Retiro e regulação do aleatório Uma ciência travêssa Post-scriptum sobre os limites ontoteológicos da Psicanálise, que ela todavia transgride O que é isso de ontoteologia? Retorno à questão da ontoteologia e da sua transgressão B) O que é que há fora do texto? Nada. Tudo. Uma guerra contra a ‘bêtise’ A imanência das inscrições Comutação linguística e conotação semiótica Uma redução muito fecunda Retorno a Parménides: fora do texto não há ‘nada’ e há ‘tudo’ Admirável Maurice Gross Comparação de antropologias através das línguas C) A Economia Política por vir enquanto ciência terapêutica As ‘leis económicas’ dependem dos contextos sociais Ciência social ou ciência da sociedade? A lei da selva e a lei da guerra O comércio global contra a guerra global “O capitalismo prospera; a sociedade degrada-se” A moeda e a redução científica em economia... ... escondem a política dentro das escolhas económicas A cegueira estrutural duma ciência social que se toma por ciência da sociedade A tarefa da economia política: controlar a lei da guerra dos capitais
V – FILOSOFIA COM CIÊNCIAS recuperar a dimensão filosófica das ciências suspensa por Kant O retorno às próprias coisas As invenções da definição filosófica e do laboratório científico Ontoteologia (Heidegger) e logocentrismo (Derrida) Husserl e a redução Heidegger e a (pro)dução Derrida e a re(pro)dução Retornar à ‘realidade’ após o laboratório Definição de sociedade O ‘dentro’ construído a partir de ‘fora’ A desconstrução: mesmo e não-idêntico, indissociável e inconciliável Ousia e duplo laço Os princípios dos dois tipos de matéria: o átomo e a célula Os duplos laços compostos A cena do conhecimento: tribal e cosmopolita A liberdade como enigma Breve história da verdade ocidental: os Gregos Breve história da verdade ocidental: os Europeus Bibliografia
O AUTOR
FERNANDO BELO: Até aos 40 anos. Duas licenciaturas, em engenharia civil (IST, 1956) e teologia (Paris, 1968), com 12 anos de clérigo entre elas, tendo tido um maravilhoso professor de filosofia, o P. Honorato Rosa. Esta época saldou-se com a publicação de Lecture matérialiste de l’évangile de Marc. Récit, pratique, idéologie (1974), trad. castelhana, alemã e americana, articulando uma leitura textual da narrativa (R. Barthes) à estrutura social da Palestina da época (Althusser, Bataille), no contexto do estruturalismo francês, aliança da filosofia com ciências sociais e humanas. Após os 40 anos. O livro, em tempos de revolução, abriu as portas do departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa (1975-2003), docente de Filosofia da linguagem e doutorado com tese sobre epistemologia da semântica saussuriana, (1989). Da Linguística às outras Ciências, esse ensino saldou-se pela publicação de Le Jeu des Sciences avec Heidegger et Derrida, (2 vol. 2007), entre outros livros, como Heidegger, pensador da Terra (2012), Seja um texto de paixão Onde se mostra que sem a Filosofia não haveria Europa e dos blogues Filosofia com Ciências (textos de fundo) e Filosofia mais Ciências 2 (textos de ocasião).
Detalhes:
Ano: 2018
Capa: capa mole
Tipo: Livro
N. páginas: 232
Formato: 23x16
ISBN: 978-989-689-794-9
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